segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"Decifra-me ou te devoro"

Gosto de olhares que me dizem meias verdades.
Tudo que é inteiro tem uma metade.
Aquela escondida entre as quatro paredes do seu pensamento
É justamente a que me interessa.

A parte calada,
A parte fechada,
Aquela que não se revela.

Intriga-me esse jogo de pistas vagas
Onde ninguém se entrega.

Intriga e entrega...

Você não sabe o que eu quero?
“Decifra-me ou te devoro”!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Eu gostava do  mistério que se escondia
atrás  do intervalo do seu silêncio.
Da curva perigosa que me fazia acelerar.
Mas depois de tantas noites de insônia,
Depois do pesadelo, eu digo que foi bom acordar.

Eu te falei que tinha medo.
Mas você um dia me fez acreditar.
E de tanto eu tentar fugir
eu me rendi
eu me entreguei
e eu me perdi.

E difícil saber a hora de parar
quando  se perde a noção do tempo.
Quando estamos longe.
Quando não há mais o que tentar.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A ponte engarrafada, os ponteiros que não deixam de girar no relógio da Central. A Rio Branco sempre cheia já nas primeiras horas da manhã.O café na mesma padaria, a passada de olho no jornal da banca enquanto espero o sinal abrir...assim começa o  meu dia a caminho do trabalho. Eu vou devagar, como quem faz hora, como quem não tem pressa de chegar. 
O elevador sobe com os mesmos engravatados de ontem e certamente os de amanhã. São todos iguais. Somo todos iguais? Espero que não...


"Um dia desse
Num desses
Encontros casuais
Talvez a gente
Se encontre
Talvez a gente
Encontre explicação"...

sábado, 11 de junho de 2011

"Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar."

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 9 de maio de 2011

" Eu também talvez seja o personagem de mim mesma."

    Minha monografia está engasgada como soluço preso na graganta. Quanto mais eu leio , mais distante fico do lugar de onde já não sei voltar. Não consigo achar relevância no que quero dizer. Já nem sei o que quero dizer, me perdi e não consigo me achar.
   Em  Um Sopro de Vida, quando ela diz- "Estou, por exemplo, querendo escrever sobre uma pessoa que inventei(...)É difícil. Como separá-la de mim? Como fazê-la diferente do que sou?"-me coloca diante daquilo que suspeitava encontrar e que, talvez, seja o grande obstáculo que me impede de  dar um passo adiante. Onde termina a personagem e começa a escritora Clarice Lispector? Nunca fui uma leitora assídua de sua obra, mas o que percebo é que há uma linha tênue que separa realidade e ficção. É claro que, resumir seu trabalho como um projeto autobiográfico seria ,no mínimo, desqualificar todo seu poder de criação. Mas não consigo abandonar totalmente a ideia de que sua vida foi sim, de certa forma, material humano para concepção de suas personagens.
    O filósofo Sartre certa ocasião disse à Simone de Beauvoir que seu desejo era ser um grande escritor e para isso ele precisava experimentar o mundo. Nunca esqueci desta passagem e sempre repito quando estou numa roda de amigos, sentada numa mesa de bar, a minha sede( não de ser escritora), mas de observar o mundo, as pessoas. Acho que Clarice foi não só uma grande observadora dos outros , como de si própria. Por isso entendo quando ela dizia que escrever era uma necessidade, muito mais do que um projeto literário. Daí o fato de ela se sentir incomodada com esse rótulo de escritora. Escrever para ela era uma forma de tentar se descobrir.
   O meu trabalho será falar do olhar de Clarisse sobre o universo infantojuvenil. Cabe agora desobrir como vou costurar essa colcha de possibilidades, entre os contos e livros que abordam essa temática infantil em sua literatura.

                " ------estou procurando, estou procurando.Estou tentando entender".
                                                                                 A Paixão Segundo G. H.

    Acho que é isso. também estou tentando entender. É difícil!







domingo, 27 de março de 2011

Lembranças

   Quando o ônibus chegava à rodoviária,depois de quase oito horas de viagem, eu sempre fazia o mesmo caminho até o seu trabalho. Naquelas horas mortas quase não se via ninguém pelas ruas, meus passos eram largos. E você vinha fumando o Marlboro de filtro vermelho que eu tanto detestava. Mas era charmoso ver a fumaça dançar no ar, o modo como sua mão conduzia o cigarro até a boca. O Jardim Santa  Rosália já foi cenário de muitas histórias.  Gostava de gastar a madrugada no pub próximo a sua casa. Minha bebida era sempre a mesma: cerveja. Já você, adorava conhecer o gosto de  novos sabores; a cada encontro , uma bebida diferente.  
   Havia alí uma sintonia, meu jeito bossa nova misturava-se as batidas de sua música eletrônica. E nossos corpos dançavam ao ritmo da intensidade do desejo, da saudade, da vontade...
    Muitas vezes o dinheiro mal pagava a diária do hotel. Quase amanhecendo o dia, eu olhava seu rosto meio embreagado, seu sorriso doce me chamando de amor, me chamando para o amor. Se fomos felizes? Mas é claro que sim! Se seríamos hoje? Não sei...provavelmente não.


O tempo afasta pessoas . Mas ele talvez nunca seja capaz de apagar certas recordações. Onde quer que você esteja, feliz aniversário!


domingo, 20 de fevereiro de 2011


   Frida kahlo disse que se pintava porque era o assunto que conhecia melhor. Privilegiados são aqueles que, de fato, se conhecem. A cada nova descoberta, me vejo cercada de mais mistérios.Não sou a mesma, mas também não deixei de ser quem eu era. Refiro-me àquela de ontem e esta de hoje. Quem eu fui e o que sou. Não falo do que serei, porque esse tempo ainda não veio.
   Até onde eu penso que me conheço?Não tenho tantas certezas. Certa vez,uma amiga me recomendou fazer análise,para trabalhar o orgulho e a vaidade. Eu venho me observando mais e percebo que esses  defeitos não são só  características astrológicas de uma leonina. Mostrar-se não é sinônimo de ser fraco. Agora, esconder-se demais, isso sim é.
   Eu já perdi muito pelo jeito blasé. Ainda não consigo ser diferente...mas quero aprender.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Para Lóri...

Eu poderia falar tudo o que se espera ouvir de uma amiga nesse momento. Mas, às vezes, o silêncio cala nossa voz, como agora. Hoje  pensei em minha avó. Ainda sinto o gosto das lembraças de infância. Eu tinha muito medo de chuva e ventos fortes. Sempre que se aproximava uma tempestade eu pedia a ela para rezar...
Era tão mais fácil acreditar naquela época. E eu acreditava mesmo que ela seria atendida, porque pedido de vó mais parecia ordem.
Fui à igreja depois que saí do trabalho. Tenho andado com pouca fé,como pensar em ultrapassar os limites dessa nossa incapacidade de acreditar em algo que vai  além, depois do depois?
A Gisele disse que morrer é nascer ao contrário. O que acha disso Lóri?
Li  "a morte dos girrassóis". Penso que ficará mesmo bonita com um girassol tatuado em sua pele..


..." depois que comecei a cuidar do jardim aprendi tanta coisa, uma delas é que não se deve decretar a morte de um girassol antes do tempo, compreendeu? Algumas pessoas acho que nunca"...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Do que você ainda duvida?
E o que já acredita?
Você sabe dizer se é feliz?
Quantas aspirinas já tomou?
E de quantas escadas se jogou?
Você bebe para esquecer?
E quando acorda, lembra o que sonhou?
Às vezes mente para não se comprometer?
Você prefere reta ou curva?
Sabe dizer quantas pessoas já amou?
Quando perde, chora?
Você decifra ou devora?
Seu segredo ficará sempre guardado?
Seu mergulho é raso?
Você vem ou fica?

domingo, 30 de janeiro de 2011

Ingênua madrugada
que dorme tranquila
ignorando o perigo.

Esquece daqueles que ferem
e são feridos.
Jogados no chão
tendo estrelas como proteção.

São flagelados da sorte
aguardam apenas a chegada da morte.
Lá estão eles.

Mãos trêmulas
corpos sujos
olhares distantes
sonhos roubados.

Perdidos nas esquinas
da cidade de pedra.
Lá estão eles, os ignorados.

Triste sina
desta vida sofrida.
Esperança enterrada
e há muito tempo perdida.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Nos guardamos como segredos, por quê? Hoje decidi ficar nua, estou deixando cair a máscara que me tornava uma outra. O desejo de fazer o blog nasceu da necessidade de uma descoberta ou apenas da teimosia de uma procura. Quero viver de escrever emoções. Estou indo...nas esquinas do silêncio, busco um pouco a minha identidade.Escrevo palavras tímidas como uma criança sendo alfabetizada, que desenha as primeiras letras. Tenho um longo caminho a percorrer . Entre as boemias das nossas conversas, entre os olhares inquietos por respostas, fui convidada a ousar. E pensei: " só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa". Ainda não sei qual a melhor estrada a seguir, mas carrego em mim infinitas possibilidades de ser várias sem deixar de ser eu mesma. É, o ser humano é múltiplo, isso fascina.